Não existe momento mais propício para tratar do tema “ressaca” do que depois do carnaval. Não só porque ela é associada à fase pós-bebedeira, mas também porque estamos no “início oficial do ano”, como dizemos nós brasileiros, e ambos os sentidos nos remetem ao fluxo e refluxo de sentimentos e estados físicos e morais relacionados ao que vivemos há pouco e o resultado disso para frente. Tudo isso regado ao desconforto e “azia” de algo indigesto que engolimos por espontânea vontade ou forçadamente.
Isso sem falar na ressaca moral que estamos vivendo diante da besteira colossal (li e vou replicar na íntegra essa expressão que acho caber bem ao que quero falar) causada por nós mesmos ou por outrem. Também quando lemos sobre a expressão ressaca moral, ela sempre vem associada a arrependimentos de atos que fizemos sem dar conta deles no momento. Aqui vou usar também o termo dirigido à vergonha coletiva que temos vivido nos últimos tempos.
Não vou e não é meu forte me arvorar por assuntos de cunho político e/ou econômico-financeiro. Não tenho competência para tal. Mas tenho para falar das ressacas que nós, pessoas e profissionais, vivemos no dia a dia no âmbito das nossas relações pessoais, afetivas e profissionais.
Dessa ressaca que quero falar, esta não tem fase do ano, dia e hora marcados para acontecer. Ela nos “pega” a cada momento e situação que vivemos e que nos tira do nosso prumo, que mexe com nossas entranhas, que atinge o fundo da nossa estima e que nos traz o sentimento de DéJà vu, para mim, o pior possível e que nos rebaixa ainda mais pelo sentido de estar passando por tudo de novo ou ter a impressão de já ter passado por algo semelhante. Um sentimento de recaída, de involução, de impotência.
Algumas ressacas: pode ser que não tenhamos controle sobre elas; mas algumas podemos decidir não passar de novo, ou não provocá-las em ninguém, tendo a clara consciência do que um dia possamos ter feito para causar esse desconforto a alguém de nossas relações.
A era do foco na inteligência emocional traz consigo a importante evolução a que temos que perseguir: o retorno ou o aprendizado dos bons modos; da gentileza; da generosidade; do respeito; da consideração e parceria construtiva para busca do melhor, do correto, do possível, do cabível. Trabalhar para que as pessoas melhorem suas atitudes, comportamentos e escolhas garante que possamos, como seres humanos, passar por menos situações indigestas que nos causam as tais ressacas no dia a dia, sem mesmo ter tomado uma gota de álcool.
Pode ser que para alguns o ano esteja começando somente agora, já que esse sentido se mostra tão forte dentro de nós. Já repetimos essa percepção de forma inconsciente, como um mantra automático. Gravado e não expressado pela alma. Talvez para outros muitos, o ano tenha começado exatamente no início dele ou está para começar quando algo significativo acontecer. O simbolismo disso é muito particular.
O que importa de verdade é como eu e você vamos começá-lo e a partir de que princípio. O nosso princípio, a nossa premissa, o nosso propósito pessoal.
Na origem, ressaca significa o forte movimento das ondas sobre si mesmas, resultante de um mar muito agitado, quando se chocam contra obstáculos.
Vamos mudar esse movimento? Comece identificando o que e quem causa as suas ressacas e a partir daí defina e se posicione sobre o que você vai fazer a respeito disto, pois amanhã temos outro carnaval, outro início e as mesmas ressacas que nos provocam tantos mal-estares.