A questão da motivação tem que ser explorada em vários âmbitos. Sabe-se já que a motivação vem de dentro e que existem pessoas que na sua essência ou são automotivadas ou não apresentam esse traço de forma natural e espontânea. Não conseguimos motivar ninguém que não tenha dentro de si essa “chama”. Podemos apoiar, estimular e estar perto, de forma solidária e como um exemplo, mas a motivação é intrínseca.
Por outro lado, não é por isso que nas relações, sejam elas afetivas, pessoais ou profissionais, o outro lado não possa e deva fazer a sua parte. Vamos focar aqui nas organizações, que é o nosso elemento de estudo. As empresas precisam de pessoas comprometidas, dedicadas, interessadas e automotivadas para contribuir com os resultados de negócio esperados. Para tal, elas precisam entender que existe um cenário mínimo e necessário para que as pessoas possam demonstrar essa postura e fazer a diferença para o negócio. Estamos falando de ofertar um ambiente propício onde as pessoas se sintam felizes por pertencer aquele lugar e seus valores; oportunidades de contribuição e desafios; espaços de crescimento e evolução; reconhecimento e valorização; e, principalmente, uma boa gestão que as estimule e incentive a fazer o seu melhor. Querer ter um quadro de colaboradores automotivados por muito tempo e não investir e se preocupar com isso, é não se responsabilizar pela parte que lhe cabe e somente olhar com o foco de que os funcionários de hoje estão deixando muito a desejar. Isso é um equívoco, na maior parte dos casos.
Na minha visão, pessoas automotivadas transbordam energia e vontade porque têm motivos para isso. Ficam nas empresas até quando os motivos são reavivados diariamente por estímulos externos. Quando essa troca não acontece mais, elas partem para outro desafio e retomam seu espírito automotivado em outro lugar.
Agora, quanto aos colaboradores não estarem motivados: percebemos que o funcionário não está automotivado ou que perdeu a sua natural motivação, quando a sua luta e sua energia abaixam; quando ele para de participar ativamente das situações que sempre esteve presente; quando seu olhar muda; quando seu desempenho cai; quando começa a se perder em lamentações que antes não fazia; quando percebe-se que ele desiste (e percebemos isso) e só está dando um tempo para depois partir para outra.
Já aquela motivação que costumamos avaliar de pessoas que de fato não são os automotivados da forma que eu apresentei aqui, e que são os típicos profissionais que esperam mais do que fazem; que pouco lutam pela mudança; que preferem reclamar do que tentar promover algo diferente; que têm visão mais pessimista do que otimista, etc., essa motivação sempre fica mais ligada aos fatores externos e a culpa e peso recairão sempre fora e nunca dentro.
O problema da automotivação hoje está intrinsicamente ligada à falta de motivos, de objetivos, de propósitos, pois quando se tem tudo isso as pessoas vão à luta para buscar algo diferente, para não se render à zona de conforto e ao continuísmo.
Primeiro passo, caso a pessoa se perceba desmotivada: olhar para a situação e avaliar o porquê de estar assim. Mas olhar de forma verdadeira, para dentro de si, e buscar essa causa e o que a gerou. A causa na maior parte das vezes está dentro e não fora da pessoa. O que vem de fora só serve para confirmar o que o sentimento interno traz.
Identificada a causa é avaliar o quanto a pessoa está disposta a reverter isso, por ela, e não pelos outros ou por motivos superficiais. Ex: um colaborador acha que sua empresa não oferece as condições de trabalho e carreira que ele sonha. Depois de lutar para melhorar e não ter os resultados que espera, ao invés de ficar reclamando anos a fio, é preciso se preparar e se fortalecer para mudar e buscar essas chances em outro lugar, por exemplo. Por isto insisto que está na mão de cada um. Claro, existem limitações e necessidades que nos fazem ter medo e insegurança para dar o passo, mas é aí que entra a preparação para que um dia isso possa ser mudado. Não estou aqui estimulando saídas e desligamentos. Só estou alertando e reforçando que o caminho e as decisões são nossos, que a desmotivação é nossa e nós que precisamos cuidar delas e não cobrar do outro por isto.
Isto, volto a dizer, não isenta as empresas, os amigos, os cônjuges e os familiares da sua parte de contribuição para melhores relações e parcerias mais justas, sólidas, honestas e felizes.
Quando já estamos desmotivados, ou algo nos desmotiva, é hora de parar e olhar para isso, ao invés de só reclamar ou desistir e se comportar de forma imatura. O que tenho visto muito nas relações de trabalho é esse cenário: pessoas estão desmotivadas, não conseguem lutar ou promover as suas mudanças, não acreditam mais em nada e em ninguém por não terem motivos fortes para sair dessa sintonia (ou força interior) e acabam demonstrando atitudes imaturas e inconsequentes. Este não é o caminho e só provoca conflito, insatisfação, infelicidade e baixa autoestima. As pessoas se tornam adultos infantis e que não “bancam” a sua vida, a sua caminhada.
Tem se falado muito nos últimos anos sobre a busca do autoconhecimento. O que é isso? É olhar para si, seus pontos fortes e frágeis, suas expectativas e sonhos, suas forças e fraquezas, e trabalhar tudo isso em prol de um equilíbrio que traga mais sucesso para nossa vida pessoal e profissional.