Resiliência: superação com transformação

Temos lidado nós últimos anos com a situação de estresse, descontrole emocional, falta de capacidade ou de ânimo e de resistência do ser humano para lidar com os desafios da atualidade, desafios estes inerentes a um cenário de competitividade, exigências, incertezas, mudanças aceleradas, quebra de paradigmas e desalinho de valores. A modernidade e a evolução inerente trouxeram mudanças positivas, mas deixaram alguns rastros de consequências negativas para o ser humano, que agora parte em busca de um equilíbrio necessário. Eu diria que vital.

E o que temos visto hoje: pessoas que não têm conseguido manter o equilíbrio básico, retratado em autocontrole emocional, vivacidade e disposição, bom humor, disponibilidade, felicidade e automotivação para desafios, conquistas, mudanças, etc. Faltam sentidos de propósito e pertencimento e eles estão impedindo, a meu ver, a evolução de posturas e atitudes adultas e agregadoras em ambientes como o trabalho, nossas casas, relações na comunidade, convívio harmônico na sociedade (vide relações imaturas entre condôminos de prédios, casas de condomínios, colegas de escola, etc.). O ser humano anda uma pilha sem muitas vezes saber o que está por trás disto e onde esse sentimento começou e por quê. As pessoas estão desistindo, se acomodando ou se permitindo, sem questionar, ser quem elas acham que devem ser, mas de forma desestruturada e inconsequente. Isto não é liberdade de expressão e muito menos evolução da espécie.

Parece que minha fala está incoerente com o movimento que estamos assistindo em nível nacional. Ele representa um grito da coletividade, no sentido de lutar por um país melhor. Talvez precisemos também unir forças para transformar alguns valores, posturas e exemplos que no dia a dia estão consumindo a esperança daqueles que têm boa intenção, são positivos e lutam por mudanças verdadeiras em todos os níveis. Isto está acontecendo nas organizações, por exemplo, onde percebemos que as relações de trabalho evoluíram, por um lado, mas se deterioraram em alguns aspectos. Antes de lutar pelo maior, temos que fazer nossa parte no microcosmo, aquele que temos domínio ou está perto de nós. Ou seja: nós mesmos em primeiro lugar, nossas famílias, amigos, liderados, e outros para os quais somos exemplos de vida e de conduta.

Um termo que vem sendo aplicado às Ciências Sociais e Humanas nos últimos anos é Resiliência. Este é um conceito vindo da física e se refere à propriedade que alguns materiais têm de acumular energia e ao serem submetidos à tensão ou estresse não se romperem. Recompõem-se, mantendo suas propriedades originais intactas. É a noção da “elasticidade”.

O estudo do comportamento humano tomou este conceito emprestado, num primeiro momento, e passou a analisar as pessoas sob a ótica desta capacidade que leva alguns indivíduos a lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – choque, estresse etc. – sem entrar em surto psicológico. Mantendo-se de pé, firmes e muitas vezes ainda saindo mais fortes do que entraram, pelo aprendizado vivenciado. Como uma transformação mesmo.

Hoje, numa visão mais contemporânea, a resiliência agrega ao conceito original a capacidade que a pessoa tem em passar por tudo isto e ainda ajudar a transformar a realidade. Ter a capacidade de promover o futuro e não apenas esperar ou suportá-lo. Hoje a resiliência da forma que é entendida traz a conotação de pró-ação, de busca, de exploração, de crescimento.

E a grande questão é: resiliência é para todos? Por que algumas pessoas demonstram esta força e outras não?

As empresas hoje já introduziram esta capacidade como uma competência importante adicionada e valorizada no perfil de competências exigidas das pessoas, principalmente aquelas que ocupam cargos de maior responsabilidade e que estão sujeitas a maior pressão e estresse: líderes, Gestores, cargos de relacionamento com público, cargos que envolvem riscos, etc.; e cargos que precisam ser agentes de mudança para ajudar a empresa nos processos de evolução. Aqui podemos incluir a alta direção, presidência e qualquer posição em nível estratégico. E nós, profissionais de RH. Daí a importância para entendimento desta competência, pois todos, em um grau maior ou menor, já estão sendo analisados e cobrados por ela.

Diz-se que a resiliência é uma capacidade que está na mão da pessoa em decidir, ao se deparar com uma adversidade qualquer, entre entrar na tensão do ambiente ou situação ou se predispor a ter vontade de vencer. Pessoas que sabem que suportar não é preciso: transformar é preciso! É preciso se antecipar e mudar: isto é estratégia, seja ela de negócio, de carreira, de mercado, de sobrevivência.

A resiliência tem que ser vista como um fenômeno que cria movimentos e ondas de mudança, dentro de ciclos virtuosos. Não basta dar conta e superar, temos que transformar para melhor: e para o melhor de todos ao nosso redor. E a superação virá à medida que os resultados forem aparecendo através de posturas revolucionárias que trarão a tão almejada diferença. Só assim conseguiremos mudar, de verdade, o sistema, aquele que precisa ser renovado, amadurecido e transmutado.

E você? É uma pessoa resiliente? As empresas e a vida precisarão cada vez mais de pessoas com essas características. Isto está dentro do conceito de Inteligência Emocional (IE). Mais do que QI Intelectual, as pessoas terão de ter uma boa dose de IE para sobreviver às exigências de novos perfis e posturas num mundo globalizado e de muita transformação. E de pessoas que serão peças-chave nos processos naturais de mudança ao qual o mundo passa e passará. Esta é a única certeza que temos.

Mas, tudo isto com muita maturidade, discernimento, preparo e vontade. Sem estresse, sem o sentido de obrigação e sem o papel de vítima. O sentido aqui é de propósito, de causa, de sonho. É uma busca interior, mas com repercussão no coletivo. Este é o foco que nossas ações deverão ter para os próximos tempos. Temos que fazer a nossa parte.

A nova perspectiva do modelo de hierarquia das necessidades humanas nos diz que o homem busca encontrar, além daquelas que já conhecemos através da famosa Pirâmide de Maslow, significado na existência, fazer a diferença na vida das pessoas e, em última instância, servir à humanidade e ao planeta. Estamos falando de um estágio de consciência avançada, mas real.

Nossa responsabilidade é grande e temos que deixar espaços mais limpos, mais íntegros, inteiros e éticos para as novas gerações que estão vindo com essa nova consciência. Para um mundo girando de forma virtuosa, numa grande espiral de energia positiva, fluente e etérea.

 

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