A força da senioridade empresarial

 

Você é suspeita pra falar, podem dizer alguns, sabendo que me encaixo na faixa dos tais seniores que o mercado cita. Aos olhos de fora e para aqueles que ainda passam longe da meia idade, pode parecer suspeito sim. Mas para quem já está nela e avalia sua trajetória profissional e pessoal e, é claro, promove de forma continuada movimentos de evolução, adaptação, reinvenção e outros, para si para os que trabalham ou convivem, tem o sentimento e a certeza que sim, a senioridade tem seus méritos e benefícios.

Que bom que as organizações estão mudando seu foco sobre isso. Um profissional experiente e reconhecido no mercado de trabalho não se constrói apenas pelo acúmulo de tempo de experiência e trabalho realizado. Essa bagagem valorizada hoje pelas empresas é fruto de uma trajetória rica de vivências diversificadas e desafiadoras; de convivência com pessoas e culturas diferentes; de conquistas e/ou aprendizados por vitórias ou fracassos; de escolhas assumidas; de mentorias, tutorias e exemplos recebidos; e da evolução da inteligência emocional. Essa é a senioridade que estamos falando aqui.

Dentro da minha carreira de RH, vivi as várias fases onde as empresas fizeram seus laboratórios de gestão seguindo passos muitas vezes empurrados por um modismo emergente, ou mesmo acreditando ser a solução dos seus problemas.

Em todas essas experiências, tivemos e temos sim, casos de sucesso e outros menos emblemáticos. Vimos as empresas apostarem em profissionais mais novos para desafios complexos e que transcendiam a sua capacidade de lidar com eles, não for falta de inteligência e entusiasmo juvenil (já estive nesse cenário também), mas por falta de vivência.

A maior parte dos aspectos que vivemos na nossa vida profissional está além de uma boa formação e cultura; de talentos e aptidões diferenciados; de teorias e informações absorvidas em volume, e de tecnologia de última geração aplicada.

A vida real nas organizações nos afronta de tal maneira que se não tivermos estrutura e memória de vivências e relações encorpadas e conduzidas de forma sólida e estreitada, com pitadas de dedicação, disciplina, comprometimento, propósito e respeito mútuo, não conseguimos dar conta dos desafios que nos aguardam e nos cobram competência, resultados e demonstração de maturidade/equilíbrio emocional diariamente, segundo a segundo. Estudos sobre Inteligência Emocional citam que ela tem seu auge, no indivíduo, por volta dos 50 anos.

E minha visão não exclui em nada a força de trabalho mais jovem, muito pelo contrário. Eles têm nos ensinado muito: nas empresas, nas escolas, em casa e na comunidade, e essa diversidade nos faz crescer, a todos. Os mais maduros e os mais jovens. O que estamos falando aqui é da visão simplista de que se pode, de forma sumária, substituir essa rica experiência advinda de anos de uma caminhada consistente por outras que ainda estão por amadurecer.

E isso é belo, não é? Pois estamos, os seniores, contribuindo para essa evolução do negócio e das pessoas, e para a formação e perenidade do conhecimento e boas práticas que passarão de geração para geração. Esse é o ciclo natural da vida. Inclusive da empresarial. Essa nova, ou já sabida, premissa que o mercado traz, só confirma que por muito tempo tratamos alguns pontos na empresa de forma imatura: o achar, por exemplo, que formação teórica e incrementos técnicos e tecnológicos por si só capacitam um profissional a ser um bom líder, sabendo lidar com o universo enredado que é gerenciar pessoas, relações, parcerias e expectativas.

Podemos citar muitos outros. Até os Programas de Trainee estão inovando nesse sentido, buscando profissionais já com conhecimento e alguma expertise dominada. O modelo de buscar somente um bom perfil e formação diferenciada não atendeu, na maioria dos casos, os desafios crescentes que a cada década pressionam as empresas a reformular seus velhos métodos e crenças.

Que bom que é assim! No segundo foco desse assunto, estudos recentes mostram que as pessoas/profissionais mais felizes em seus empregos e trabalho são aqueles acima de 45 anos. Talvez isso proveniente do equilíbrio alcançado na vida pessoal e profissional. Isso não é uma regra, com certeza, mas um reflexo real. Ainda mais quando pensamos que a longevidade do ser humano carrega consigo a longevidade profissional, que hoje já é um fato tratado.

Portanto, ter a idade usual que categoriza um profissional como maduro e experiente hoje, não significa mais fim de linha, fim de carreira. As pessoas já não param mais aos 50. Muitas recomeçam nessa idade. Outras tantas têm ainda muitos planos de contribuir e até de aprender coisas novas ou aprimorar aquilo que a capacita a um veterano. Sim, porque, e agora vem um ponto importante e é o que me deixa confortável de não desprezar nada diferente da visão aqui apresentada, é que mesmo tendo atingido o tal nível de experiência de vida e profissional, hoje o mundo nos cutuca a aprender sempre, ou seja, se um dia os mais velhos tiveram a arrogância de se posicionar como sabedores de tudo, hoje isso já não é mais válido.

Os estudos das novas gerações, especialmente aquela está adentrando as empresas mais recentemente, comprovam que ela tem muito a nos ensinar. Portanto, temos mais um desafio nas organizações: a valorização e o bom uso das competências mais experientes em prol dos resultados do negócio e da formação de futuros líderes, decisores e intraempreendedores que garantirão a continuidade da marca, do sonho, do propósito.

As visões e práticas parecem conturbadas, assim como os discursos mais filosóficos parecem etéreos, mas a verdade é que num movimento esperado no universo de revisão de valores, isso não pode nos acomodar. Não podemos ficar sentados esperando e atestando que o mundo só tende a implodir e que a desestrutura das bases éticas estão contaminando o nosso olhar otimista e esperançoso. As novas gerações não podem enxergar que desistimos delas. Nós somos a geração que viveu as maiores dificuldades e que, com certeza, terão muito a ensinar aqueles que têm seus sonhos ainda não ultrajados.

 

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